música de papel

meu caderno é o meu violão

com lápis desenho o refrão
canto em nuances de cores, sombras e formas

de amor, rebeldia e solidão

"aleatoriando"

cinema de pipoca doce com sal troco pra vinte atravessou a rua não viu o carro e acababou embaixo dele morto sem culpa nem aviso aos pais. 


sábado de manhã depois da janta a galinha nadou até o céu pra dizer ao padre que era hora de dançar a valsa do poconé. 


roberto malandro sabia neguinha do morro querer sem camisinha e filho fez com doença e tudo no pau.


dona flor pensou que o sofá era escrivaninha já que o marido escrevia o resultado dos jogos sobre as almofadas. 

3 verdades

a preguiça é surda
a ignorância é cega
a tristeza é muda

A armadura azul

Quatro cadáveres completamente esquecidos fediam à podridão de suas ganâncias. Após verificar seus pertences e saquear alguns tostões e um punhal, ele avançou sobre a penumbra quase umbralística daquela masmorra. Tropeçou em uma pedra e o tintilar da sua armadura despertou algo das profundezas da escuridão. Mais um demônio. Medo. O suor correu por entre seus longos cabelos pretos e sem mais se preocupar com o silêncio, sacou pesada espada de sua bainha. Era especial. Fora conquistada sobre jorro de muito sangue em muito sofrida batalha. Carnes e ossos cortados com aquela lâmina ardiam desesperadamente em chamas. A espada por si só brilhava uma luz mágica vermelha e naquele lugar lhe servia não somente como proteção, mas também iluminava seu caminho. Avistou porta improvisada de madeira. Pela fresta vozes soavam como som de suínos sendo abatidos, mas num tom bem mais baixo, ainda mais pertubador. Escancarou a porta com uma porrada de sua espada! De repente tudo ficou azul brilhante e ele não se lembrou de mais nada.

-Mãããe! Você desligou o...
-Chega de videogames por hoje. Está na hora de dormir.

Vestindo pijama azul, o guerreiro recolheu-se em seu quarto. A aventura teria que esperar até amanhã após a escola.

ponto de vista

balões rosas flutuavam em ritmo de balé pelo céu da cidade. três crianças que não foram convidadas para a festinha de 2 anos da pequena julia imaginaram terem visto disco voadores. aposentados tomavam café do lado de fora da padaria pensaram que as lentes dos seus grossos óculos estavam sujas. um grupo de adolescentes acharam que eram seios de silicone voando ao vento. ninguém percebeu que eram bexigas de ar assustadas.

antes do dia

o quarto estava abafado e com cheiro de sono. travesseiros sobrando na cama e o cobertor planejava sua fuga, talvez quisesse cobrir o sofá da sala. o sol aceso lá fora convidava o casal para abrir as portas e deixarem as roupas de inverno para trás, mofando talvez dentro de uma mala num canto escondido do apartamento. ela abriu os olhos e ele sorriu.
- pronta?
sem resposta, pois é preguiça é muda, levantou-se da cama, arrumou seus cabelos loiros e embaraçados. passos curtos e arrastados atravessaram o pequeno corredor a caminho do banheiro. na curta trajetória sentiu cheiro de ovos mexidos, banana e ouviu a cafeteira escarrando o café fresco. ele estava na cozinha. calado, diante da bancada e mastigando um pão duro com manteiga e queijo de cabra. em seu prato restos de ovos mexidos. ao lado, um copo de suco já bebido. dava pra ver o açúcar molhado no fundo, misturado com a cor de qualquer seja a fruta que lhe deu o sabor fresco e doce daquela manhã. na sua cabeça estavam muitas outras coisas sem cheiros ou sabores. coisas que embrulhavam seu estômago. vinte e quatro minutos se passaram. ela finalmente abre a porta do banheiro e vem ao seu encontro. Havia feito sua maquiagem de sempre: nada demais que parecesse ter se maquiado, mas também nada de menos que parecesse não ter cuidado com a aparência. ela estava divina. ele estava desinteressado. eles estavam atrasados. de novo.
- dia corrido hoje?

do brasil

saudade do calor. do sol. da estradas com buraco. do caos no trânsito. do barulho nas ruas. de todas as pessoas falando ao mesmo tempo nos bares e restaurantes. saudades do simples pingado com pão na chapa. óculos escuros. skate. andar de chinelos. sair de casa sem camisa. arder de sol depois de um dia de praia. saudade de entrar numa livraria e saber que posso ler todos os livros pois estão escritos na minha língua. saudade de ouvir conversas alheias nas calçadas. saudade das coisas que não funcionam. açaí com banana e granola extra. pastel de feira. tapioca. trocadores. frentistas. porteiros. estar à um telefonema de distância de 99% dos amigos. saudade da família. estar junto. abraçar. simplesmente estar na mesma sala, sentado à mesma mesa. cajon com violão, cantoria e bebedeira. finais de semana musicais. cinema com legenda. teatro. dançar ao som de um sambinha na lapa. showzinho no circo voador. meia entrada e carteira de estudante. saudade de rir pras pessoas na ruas e elas rirem de volta. do nada. saudade de reclamar disso tudo e de dizer que o bom mesmo é morar na europa.

...

pra enxergar, fechar os olhos
pra escutar, ficar em silêncio
pra sorrir, saber chorar
pra ter saudade, conhecer
pra amar, perder?

malas e porta-retratos

a vida é muito extensa pra se planejar uma só carreira.
e o mundo muito grande pra viver em apenas uma cidade, conhecer apenas um país, viajar apenas em um continente e acreditar em apenas um planeta.

invisible massive walls

you are account. you can not create
why?
it's not in your job title
i think we should erase job titles then
why?
they don't make any difference
how is that? who would i be without a job title?
what's your name?
my name is john the copywriter
so you would be john
john what?
last name?
jackson
so your name would be john jackson, nickname jj
never! people would never know what i do
so you want a job title to carry inside the agency?
its the only way people will know i am creative.
i'm sorry. and what's your objection about me creating something?
i am creative and you are not.
why do you think that?
because your job title says account.
lets forget about job titles.
i'm sam. only sam.
what do you do for living sam?
during the day i do advertising. after work i play in a band, shoot photos, draw, cook, do skateboarding, mountain biking, work out at the gym, hang out with my girlfriend, do yoga, read, write poems and other stuff. and you, what do you do after work?
i'm john the copywriter.