quarta-feira, 22 de setembro de 2010

eu não vou votar em você

porque tem uma foto sua com 10 metros de altura pendurada na parede de um prédio.
ou uma gordinha com buço segurando seu cartaz na rua.
nem vou votar em você porque minha caixa de correio está lotada de cartinhas suas pedindo o meu voto.
pior, nesta cartinha você me chama de querido.
só pessoas muito íntimas me chamam de querido.
e eu nem te conheço.
também não vou votar em você porque um sujeito com cara de bandido me entregou um papel, de novo, com sua foto. de novo!
não vou mesmo!
não voto em você porque vi um vendedor ambulante vestindo uma camisa de malha vagabunda com sua foto estampada.
e o meu porteiro que passou a usar diariamente um boné com o seu nome.
muito menos pelos carros que vi com adesivos seus para todos os lados.
os motoristas nem se esforçavam para não parar em fila dupla, não avançar o sinal vermelho, não fechar o meu carro...
não voto em você porque invadiu minha programação de tv e ficou lá, na minha frente, sorrindo e lendo um bando de vantagens no teleprompter.
tudo mentira. acha que eu não sei?
agora acho que não voto mais em você porque já estou ficando de saco cheio de olhar a sua cara.
me persegue o dia todo. em todos os lugares.
quanto dinheiro você está investindo, hein?
fala aí! só entre nós. só de curiosidade...
vem de onde essa grana?
chega né?
nada!
quando achava que não dava mais pra encarar você...
me aparece acenando sobre um trio elétrico cantando musiquinha.
desculpe, mas PUTA QUE O PARIU!
me deixa em paz cara!
sério!
já sei o nome, memorizei o seu número e a porra da sua música.
e nada do que vi me faria votar em você.
NADA!

cabeceira

alegria enfurnada
numa gaveta bagunçada
cheia de contas pra pagar
gomas de mascar
fotos pra lembrar
passado e presente: organizar

esperança de um tempo melhor
promete-se, não tão só
eu, meu riso e nada daquilo
uma gaveta vazia
cheia de espaço pra um amor
e pra novas quinquilharias