quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ao contrário

viveria sempre sorrindo e uma vez ou outra apenas ficaria sério.
descometeria os erros que cometi.
desbeijaria e desamaria algumas mulheres.
veria ressuscitar meus avós e alguns amigos.
apagaria da memória todos os livros que li.
descriaria todos os textos que escrevi.
devolveria as palavras dos professores da faculdade e da escola.
assopraria toda a fumaça de toda droga que já me intoxicou na vida.
ficaria sóbrio de todo álcool que jamais beberia.
cuspiria toda a comida ruim que comi de volta ao prato e ao guardanapo.
colocaria casca nas frutas e guardaria a saliva que produzi quando as escolhi na feira.
desconheceria alguns amigos e dezenas de outras pessoas.
ficaria cru. vazio.
choraria nu.
voltaria pra dentro da minha mãe.
viraria um sonho.

quando fica tarde

Antonio concluiu que não havia amor para ele no mundo.
Decidido caminhou até o meio de uma ponte bem alta. Destas com pedras e águas rasas lá em baixo em sua sombra.
Se jogou rumo a uma nova chance, uma nova vida, quem sabe, de amor.
Coincidentemente na mesma ponte à alguns metros de Antonio, Natacha se jogava ao mesmo instante, também por falta de uma razão de viver.
No ar os dois viram um ao outro. Seus olhos se encontraram e algo dentro deles despertou.
Era amor. Ambos tiveram certeza.
E então, o chão.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

No fim somos todos iguais

Homens. Depois que deixam os bonequinhos articulados com 67 acessórios que se transformam em armas lasers, jatos portáteis e mísseis teleguiados eles só pensam em SEXO. Mulher pelada, mulher transando, filme de sacanagem e muita, mas muita punheta. Se reparar bem vai ver que tem adolescente com músculos altamente desenvolvidos em um dos braços de tanta punheta que bate. Até depois que começam de fato a transar eles batem punheta. Acho que batem punheta até sobre bater punheta. Deve ser assim: ah, que carro legal. Batem uma. Ganhei aumento no trabalho: punhetinha. O meu time ganhou: punheta. O almoço estava bom: punheta. A punheta foi boa: punheta de novo. Tudo é punheta! Esperançosamente pros homens tudo acaba em sacanagem. Ou uma punheta no chuveiro.
Mulher gosta de transar também. E não tem essa que homens fazem sexo e mulheres fazem amor. Eu gosto de dar. E muito. Mas não dou pra qualquer um. Só pra qualquer um que me dá tesão. Mas tem uma coisa que nós mulheres sabemos controlar melhor: não tocamos tanta siririca quanto os homens a punhetinha. Eu prefiro dar mesmo. E quando não tem nenhum homem disponível pra me comer – que cá entre nós é quase impossível – eu apelo pro “Tonhão”. A gente se conheceu faz um tempo e ele me entende como ninguém. Só preciso trocar a pilha dele de vez em quando.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

‘Despopularize’, por favor

Não sei se você já percebeu, mas Buenos Aires é a nova Búzios!
Quantos dos seus conhecidos foram para a Argentina nos últimos meses?
Viu?!
Há uma semelhança incrível entre os dois lugares:
Ambos ficam perto da sua casa;
Dá pra ir pra lá num final de semana e sem precisar gastar muito;
Provavelmente ao chegar lá você vai encontrar o seu vizinho.
Ou alguém do seu trabalho.
Nos dois lugares tem muito argentino andando na rua.
E brasileiro também.

A merda é que eu gostava de ir pra Búzios. Assim como eu gostava de ir pra Cabo Frio, que acredite ou não, já foi sinônimo de beleza e de pessoas bonitas andando nas ruas. Não sei o que acontece, mas quando mineiros, paraíbas, paulistas, cariocas e argentinos... enfim, quando todo mundo no mundo decide ao mesmo tempo que determinado lugar é "o lugar", o paraíso vira farofa. Decai. Vira lixo e brota gente esquisita por todo o lugar. Confesso, tenho aflição de gente feia. Muita gente feia junto me dá pânico. Não, não sou bonito. Talvez por isso mesmo eu goste de ter sempre gente bonita ao redor.

Enfim, fiquei triste por perder Cabo Frio. Tenho casa lá até hoje, mas visito pouco. Fiquei triste por perder Búzios também.
Queria só registrar aqui que tudo bem a gente dar uma "brasileirada" ou seja lá o quê na capital da Argentina. Talvez tenham sido os argentinos que chegaram primeiro em Búzios, em Cabo Frio e levaram consigo todo o resto.
Então, vai mesmo pra Argentina!
Come frango com farofa e guaraná 2 litros na Feira de San Telmo. Dá uma mijadinha ali na porta da Casa Rosada. Vende churros na porta do Café Tortoni e cd de sertanejo universitário na entrada do Asia de Cuba em Porto Madeiro. Exponha colares naturais coloridos feitos por você na Recoleta, ao lado da Rosa de Metal. Pode até tirar um cochilo dentro do seu ônibus de excursão no estacionamento do Malba. De verdade, pouco me importa.

Mas porra, me devolve Cabo Frio e Búzios!!!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"eus"

em apneia no oceano dos meus pensamentos.
quanto mais profundo mergulho em mim mesmo, mais desesperado fico para emergir à realidade.
pressuponho que todo mundo precisa de ar pra viver.
mas lá embaixo é tão silencioso...
e lá embaixo habitam tantos seres (“eus”) diferentes e prazerosos de conhecer...
que caminhar novamente sobre a superfície de águas turbulentas, que é o cotidiano, me causa náusea e mal estar.
por isso ando sempre a retomar o fôlego e a me descobrir um pouco mais.
queria passar mais tempo lá no fundo e me saber por completo.
mas ouvi dizer que faz mal prender a respiração por muito tempo.
e que existem pessoas, que de tanto aventurarem-se em si, acabam ancorados lá pra sempre.
conhecem-se a si mesmos como só elas.
mas como seres submersos que passaram a ser, não mais ouvem ou enxergam ninguém.
pois bem lá no fundo de nós mesmos, dizem, não há muita luz.
e a quietude chega a ser ensurdecedora.

acompanhado

engraçada a solidão
quanto mais tempo ela fica
mais a gente pensa que ela é nossa companhia