quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

júlia

será que vai soltar papagaio?
se encantar com a roda gigante?
rir do nada o dia inteiro?
vai cantar o quê no chuveiro?
se encantará com bons livros?
acreditará em duendes?
vai curar doentes?
distinguirá o amigo daquele que mente?
vai comer doce com água gelada?
assistir na TV uma boa pelada?
falará muito ou quase nada?
vai dormir na rede?
fazer carinho em bichinhos que passam na rua?
proteger do sol a pele nua?
surfar, pedalar, caminhar, escalar, pintar?
adorar, amar, sofrer, ter medo de palhaço, correr?
vai assistir novela?
ao dirigir vai dar seta?
vai ser uma mocinha correta?
boa filha, sobrinha, afilhada, neta?
quem dera...?
todo mundo
todo dia
desde ontem
até o sempre
incerta
mas jamais descoberta
cresce
que eu quero te conhecer

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

por onde começam as verdades?

alegria é ‘coisinha passageira’ como chuva de verão.
chuva de verão é goteira de ar condicionado.
ar condicionado é vento que sopra gelado só pro meu agrado.
meu agrado me agradaria mais se não me causasse a solidão.
solidão é companhia arruaceira que só arranja confusão.
confusão é conviver com a moça do sorriso certo embalada por outra canção.
canção é melodia de dentro do peito compassada por uma saudade.
saudade é fome saciada só com prato fundo de magia.
magia é no que uns acreditam para serem mais felizes que outros.
outros somos nós mesmos para os outros que não a gente.
gente é todo ser capaz de aprender a chamar alguém de amor.
amor é causa de muita tristeza, mas de muito mais alegria.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

daqui em diante um pouco mais adiante

já escrevi em poesia
agora rabisco em confissão
sem preocupação com rima
com a palavra ali de cima
vou viver a vida minha
e ponto de exclamação

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

num rio onde não rio mais

colete a prova de balas em promoção no peixe urbano!
-
querido papai noel.
me comportei direitinho este ano. de natal quero a bandidagem toda na vala.
-
lançamento do jogo de tabuleiro: WAR versão favelas do rio.
-
alugo bunker padrão na vila cruzeiro.
-
rio quarenta graus, cidade ... ... ... ... do caos.
-
concentração de vendedores de queijo coalho ao lado dos ônibus e carros queimando em brasas.
-
ônibus incendiado, R$ 500,00. carro incendiado, R$ 250,00. bandido caído no chão, não tem preço.
-
sangue, fogo, tanque, tiroteio, bandido, forças armadas, bope, polícia, favela, pânico... de segunda a sexta. e no final de semana, praia?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

42''

sinto uma fisgada no peito
após este choque de milésimos de segundos lembro que parei de respirar
tomo fôlego
procuro seus olhos mais uma vez
eles acham os meus
são doces como os de uma menina
e ao mesmo tempo profundos e selvagens como os de uma mulher fatal
respiro mais fundo pra inalar seu cheiro
vejo que me sorri
e isso adormece qualquer angústia da minha alma
percebo sua boca carnuda. e como abre suavemente seus lábios quando respira mais fundo
talvez tenha se esquecido de respirar também
plin! 7º andar. Sobe.
saio do elevador com a certeza de que nunca mais a verei de novo

culpa é do walt disney

ele seria carinhoso
cantaria
dançaria
voaria
jamais falaria palavrão e jamais te machucaria
por você ele atravessaria o oceano a braçadas
levantaria apenas os punhos contra dezenas de espadas
ele faria mágica
carregaria em balões uma vida inteira
viveria na selva
enfrentaria leões, dragões, mordomos e madrastas
desbravaria o mundo
como num conto de fadas
te resgataria de um labirinto e te apontaria a estrada
por você ele faria tudo
não te faltaria nada
no entanto
te deixou arrasada

a mulher da minha vida

não reclamaria
uma lágrima derramada
um sorriso dado
um livro lido
um susto tomado
uma droga ingerida
todos os golpes levados
lugares conhecidos
pessoas com quem compartilhou
o certo
o errado
o grito
o sem sentido
você é tudo isso
sempre foi
nasceu pra ser

sua vez

vem logo pra mim
vem dizer que não está
debaixo do meu travesseiro
no trabalho de um dia inteiro
do outro lado do espelho
agora é sua vez
comigo não está
me acha
pra gente viver de verdade
beijar. amar. cansar. amar de novo
brigar. fazer as pazes e ter saudade
vem depressa
estou aqui
no mesmo maldito lugar

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

esta semana

jantar pra um
cama pra dois
vinho pra três
ressaca pra quatro
analgésico pra cinco
café pra seis
trabalho pra sete

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

santos em crise, rio chuvoso, país na merda

Enquanto isso dois anjos conversam lá no céu...

Deus colocou São Pedro de castigo.
Sério, por qual motivo?
Ele e São Jorge brigaram feio.
Mentira!
Rapaz, se eu mentisse estaria no inferno. Ou no senado.
Mas o que houve entre os dois?
Ouvi dizer que São Pedro está todo enciumado porque São Jorge é padroeiro do Rio e tem um dia só pra ele.
E daí?
E daí que São Pedro está boicotando os cariocas e faz chover todo final de semana e feriado.
Putz. E qual será o castigo pra ele?
Ainda não sei, mas vai ter castigo pra São Jorge também.
Ué, mas não foi São Pedro quem começou tudo?
Sim, mas neste meio tempo São Jorge deixou escapar um dragão dos brabos.
E?
E daí que esta semana o dragão foi eleito presidente da república do Brasil!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

eu facebook, tu facebook, ele facebook

3 meses da minha vida escritos no “estilo facebook”.
nem tudo é verdade. mas nem tudo é mentira.

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Felipe Dunley está sem rimas no momento.

Felipe Dunley está à procura de um amigo imaginário.

Felipe Dunley está pronto para ser padrinho?

Felipe Dunley fica mais rabugento a cada dia.

Felipe Dunley acha que vai morrer hoje.

Felipe Dunley está escrevendo no gerúndio e na terceira pessoa. Treinando pra falar com a TIM em breve. Mais uma reclamação.

Felipe Dunley virou o encalhado da família. Casar? Alguém?

Felipe Dunley is under construction. Come back later.

Felipe Dunley quer ficar rico antes dos 30. Na próxima encarnação, talvez?

Felipe Dunley é o perfeccionista mais imperfeito do mundo.

Felipe Dunley se sente mais Felipe hoje, menos Dunley.

Felipe Dunley espera fazer as pazes com São Pedro no próximo final de semana.

Felipe Dunley gostaria de ter um cachorro chamado jpg.

Felipe Dunley hoje é só Dunley. De novo.

Felipe Dunley ainda vai ser um escritor.

Felipe Dunley sonha alto...

Felipe Dunley jogou no bicho errado e perdeu dinheiro.

Felipe Dunley logo logo vai fazer 30. Já é idade de velho tarado?

Felipe Dunley tocou cajon horas e está com os dedos inchados. A vizinha não reclamou.

Felipe Dunley tem uma vizinha surda.

Felipe Dunley terminou de ler outro livro. E perdeu pelo menos mais 3 festas. Nerd?

Felipe Dunley está certo de que hoje é o seu último dia na terra. Adeus amigos!

Felipe Dunley milagrosamente vive.

Felipe Dunley queria morar numa ilha.

Felipe Dunley matou outra plantinha. Será que elas não gostam de mim?

Felipe Dunley esqueceu o ventilador ligado.

Felipe Dunley, pelo segundo dia consecutivo, esqueceu o ventilador ligado.

Felipe Dunley precisa de uma nova assistente?

Felipe Dunley não fala a mesma língua do seu porteiro.

Felipe Dunley começou a ler outro livro hoje.

Felipe Dunley subiu no elevador com a mulher mais gata do prédio. Nestas horas a luz nunca falta. Só assunto.

Felipe Dunley pagou R$ 70,34 por algumas bananas, pão, queijo, iogurte e produtos de limpeza. Um assalto!

Felipe Dunley roga praga aos flanelinhas e atendentes de telemarketing: morram seus desgraçados!

Felipe Dunley in minding the gap.

Felipe Dunley e sua nova TV 40”. Com mais 20 anos e 20cm de testa (ou nuca), posso morrer, declara.

Felipe Dunley quer mesmo escrever um livro. Não desistiu.

Felipe Dunley vai sair com alguém hoje. Bem gata!

Felipe Dunley está de ressaca das brabas.

Felipe Dunley não acredita na sua fatura do VISA.

Felipe Dunley vai dividir um apê com os Jetsons em Nosso Lar.

Felipe Dunley é um pecador. E quem não é?

Felipe Dunley tomou iogurte vencido e passa mal hoje.

Felipe Dunley tem olheiras e veste meias furadas. Possibilidade de acasalamento nula.

Felipe Dunley malhou mais do que devia. Seus braços não esticam mais que 45º.

Felipe Dunley finalmente vai numa festa.

Felipe Dunley não lembra como foi a festa. Ainda se sente um pouco bêbado.

Felipe Dunley à toda na agência. Hoje é dia de me pedirem silêncio.

Felipe Dunley se pergunta: por que nunca desligo o ventilador?

Felipe Dunley comeu Nutella e por isso fez spinning de manhã e à noite. Neurótico?

Felipe Dunley se sente sozinho e seu telefone não toca. Será que está com defeito?

Felipe Dunley olhou seu saldo bancário e não chorou pela primeira vez em anos!

Felipe Dunley decidiu virar mão de vaca.

Felipe Dunley recebeu uma ligação. Convite feminino para sair e tomar um chope.

Felipe Dunley desistiu de ser mão de vaca para impressionar uma mulher. Valeu a pena?

Felipe Dunley on the rocks.

Felipe Dunley ainda não sabe sobre o que será o seu livro: romance ou putaria?

Felipe Dunley vai sair com outra gata hoje.

Felipe Dunley acorda com cabelos longos e loiros em seu rosto.

Felipe Dunley gosta da loira, mas não está apaixonado.

Felipe Dunley acaba de pagar R$ 30,00 ao porteiro pelo conserto do ventilador. O diálogo estabeleceu-se por gestos e sinais. Surdo/mudo algum entenderia. Mas deu certo.

Felipe Dunley tomou Rivotril pra dormir hoje.

Felipe Dunley ainda não rima: “poesia, todo dia, alegria...”... saco!

Felipe Dunley is flying to the moon.

Felipe Dunley não vê sua vizinha surda há algum tempo. Ela pode ter morrido.

Felipe Dunley compra brinquedos de super-heróis. Mas jura que gosta de transar!

Felipe Dunley come pizza de rúcula com tomates secos. Sua preferida.

Felipe Dunley acha estranho que só as coroas e gordinhas da academia puxam papo com ele.

Felipe Dunley encontrou uma nota de R$ 50,00 no bolso da calça.

Felipe Dunley não dorme há 4 dias. No espelho enxerga um urso panda subnutrido e narigudo.

Felipe Dunley fica feliz ao ver sua vizinha surda. Ela não lhe respondeu o bom dia, mas respira tranquilamente.

Felipe Dunley se apaixonou por uma mulher que viu no metrô.

Felipe Dunley resolve ser mais cara de pau com as mulheres.

Felipe Dunley está com desejo de feijão manteiga.

Felipe Dunley está com desejo de cream cheese.

Felipe Dunley está de dieta.

Felipe Dunley desiste de ser mais cara de pau com as mulheres após ter elogiado uma e ter quase levado um tapa na cara.

Felipe Dunley briga horas com a TIM por telefone. Serviço de merda! Click... Mais uma ligação perdida. E o problema persiste.

Felipe Dunley está imune ao Rivotril.

Felipe Dunley se lembra daquela vez...

Felipe Dunley sempre se arrepende quando corta o cabelo.

Felipe Dunley tira 10 dias da agência. Férias vencidas do ano passado.

Felipe Dunley acha que sabe sobre o que vai escrever no seu livro.

Felipe Dunley acorda com uma perna feminina por sobre as suas Que perna gostosa!

Felipe Dunley vai visitar a família. Já encomendou feijão manteiga materno.

Felipe Dunley acha que é um bom tio. Pelo menos por 1 ou 2 dias, 1 vez ao ano.

Felipe Dunley está de volta ao Rio. A chuva volta com ele, claro.

Felipe Dunley liga o computador e começa a escrever as primeiras frases do seu livro. Decidiu por um romance. Com um pouco de putaria.

Felipe Dunley comprou um ar-condicionado, pois seu ventilador pifou de vez.

Felipe Dunley vai se ausentar. Volto logo. Com um livro, diz.

Felipe Dunley agradece a sua leitura.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

eu não vou votar em você

porque tem uma foto sua com 10 metros de altura pendurada na parede de um prédio.
ou uma gordinha com buço segurando seu cartaz na rua.
nem vou votar em você porque minha caixa de correio está lotada de cartinhas suas pedindo o meu voto.
pior, nesta cartinha você me chama de querido.
só pessoas muito íntimas me chamam de querido.
e eu nem te conheço.
também não vou votar em você porque um sujeito com cara de bandido me entregou um papel, de novo, com sua foto. de novo!
não vou mesmo!
não voto em você porque vi um vendedor ambulante vestindo uma camisa de malha vagabunda com sua foto estampada.
e o meu porteiro que passou a usar diariamente um boné com o seu nome.
muito menos pelos carros que vi com adesivos seus para todos os lados.
os motoristas nem se esforçavam para não parar em fila dupla, não avançar o sinal vermelho, não fechar o meu carro...
não voto em você porque invadiu minha programação de tv e ficou lá, na minha frente, sorrindo e lendo um bando de vantagens no teleprompter.
tudo mentira. acha que eu não sei?
agora acho que não voto mais em você porque já estou ficando de saco cheio de olhar a sua cara.
me persegue o dia todo. em todos os lugares.
quanto dinheiro você está investindo, hein?
fala aí! só entre nós. só de curiosidade...
vem de onde essa grana?
chega né?
nada!
quando achava que não dava mais pra encarar você...
me aparece acenando sobre um trio elétrico cantando musiquinha.
desculpe, mas PUTA QUE O PARIU!
me deixa em paz cara!
sério!
já sei o nome, memorizei o seu número e a porra da sua música.
e nada do que vi me faria votar em você.
NADA!

cabeceira

alegria enfurnada
numa gaveta bagunçada
cheia de contas pra pagar
gomas de mascar
fotos pra lembrar
passado e presente: organizar

esperança de um tempo melhor
promete-se, não tão só
eu, meu riso e nada daquilo
uma gaveta vazia
cheia de espaço pra um amor
e pra novas quinquilharias

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

amargurados seres que não sabem amar

vou ser um velho solitário
daqueles que as crianças da rua e do prédio tem medo
a 'bruxa do 71' versão carioca
bom
pelo menos posso evitar ter um cachorro chamado satanás e batizar o meu de jpg
mas ele também vai ser odiado por todos
exceto por mim
seremos ele e eu
amargurados seres que não sabem amar
vamos morrer sozinhos
comer da mesma ração
respirar do mesmo ar
pesado
frio
abafado
com cheiro de melancolia
mas enquanto ainda sou jovem preciso decidir
o que fazer?
trabalho novo cairia bem. mas quero fazer outra coisa. e nem sei o quê
uma solução, varinha de condão, fada, bruxa, gnomo, duende, qualquer troço com uma respostinha mágica também cairia muito bem
e amigos também
que bom que antes de ser velho amargurado ainda tenho amigos
que bom que ainda não fiquei velho
embora já esteja no meio do caminho
hoje caíram mais cabelos no banho
e tenho quase certeza que umas rugas que tenho perto dos olhos apareceram esta semana

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

pequeninos olhos negros

fiz carinho sobre sua testa, arrepiando pela última vez seus pelos cor de farofa
disse que tudo ficaria bem
menti
ao fechar a porta fechei também os seus olhos
senti uma imensa saudade
das vezes que tive quase certeza que riu pra mim
e de tantas outras que ignorou meus chamados
fugindo dos meus carinhos estilo 'felícia'
mas sempre voltou pras minhas mãos
parecia me entender
mais do que muita gente
hoje de manhã quando me olhou
parecia se despedir
eu entendi você meu amiguinho
vai com deus

sexta-feira, 9 de julho de 2010

11 cachorros

Dizem que era 11 o número de rottweilers que havia no sítio do goleiro Bruno do Flamengo.
Deixando um pouco de lado as luzes ofuscantes da mídia, tem uma coisa que não sai da minha cabeça: O que será que vão fazer com os quadrúpedes (no sentido não pejorativo) que, sem querer, se envolveram num dos crimes mais chocantes envolvendo um jogador de futebol?

--

Chega a equipe de pastores alemães da polícia e o capitão deles, o Dentinho, ladra: Aê cambada de vira-latas, Estão todos presos! Vão todos virar sabão!

Bola 8, o rottweiller mais velho e, portando, o porta-voz da matilha, toma a frente e defende sua matilha...

Eu ladro em nome de todos aqui. Me chamo Bola 8. E nós não matamos ninguém.
Mas o dono de vocês sim. E vocês omitiram a prova do crime. E isso dá cadeia também.
Que prova?
O corpo da Eliza! Vocês comeram ela...
Os únicos que comiam ela por estas bandas eram o Bruno, o Macarrão, o moleque de 17 anos, o padeiro, o porteiro, o vigia, o seu Roberto da locadora, o frentista do posto BR, o rapaz que cuida da piscina, uns outros que não me lembro agora e o Elias, um vascaíno que entrega água...
Não estou ladrando de sexo, seu idiota!
Está ladrando de quê então dentinho?
Vocês comeram a Dona Eliza! Comeram a carne dela! Assim, esconderam as evidências do crime. Estão todos presos!
Você tá louco? Aqui a gente come ração. E quando rola churrasquinho ganhamos uns pedaços de carne.
Sei. E quando foi a última vez que vocês ganharam carne?
Faz pouco tempo. O seu Bruno trouxe um saco preto cheio de carne e deu pra gente rangar. Eu fiquei com os melhores pedaços, claro. Mas tinha uma coisa estranha...
Desembucha logo Bola 8!
A carne tinha mesmo um gosto diferente. Era uma mistura de vaca, galinha e peixe... tipo aqueles pequenininhos de rio.
Sardinha?
Não, piranha mesmo.
Bola 8, você consegue visualizar a situação? Vocês se banquetearam com a carne da pobre moça;
Que horror! - nessa hora bola preta começa a vomitar uma gosma (destas que cachorros vomitam no tapete da nossa sala). Os outros 10 cachorros que acompanhavam tudo de perto e ouviram a história fizeram a mesma coisa simultaneamente. Subiu um cheiro de leite azedo e o canil todo do sítio virou uma grande poça de gosma fedorenta. Logo depois Bola preta e os outros pedem licença e vão até o canteiro para mastigar uns matinhos. Em 2 minutos, algumas tossidas e novas golfadas, todos voltam à mesma posição e bola 8 continua o diálogo com Dentinho, capitão dos pastores alemãs da polícia de Belo Horizonte.
Mas Dentinho, a gente só comeu porque achamos que era sobra de churrasco, não somos criminosos, você sabe!
Sei?
Lógico. Como é que poderíamos saber?
Sabe como é a justiça, não é Bola preta? Os homens tão em cima aí... a cachorrada na rua tá fazendo cocô na Gávea, na porta do clube, em protesto ao caso. O Maracanã já é bosta pura. A gente precisa prender vocês ou a merda vai continuar.
Mas somos inocentes. Seremos presos por almoçar? - ao falar isso bola preta lembra de novo que se alimentou de carne humana, abaixa o focinho e começa e sair gosma de novo. Como que sombras suas, 10 rottweilers fazem a mesma coisa. A cena se repete: cheiro de azedo, matinho, mais golfo e volta o diálogo.
Você vê? Só de falar nisso nos dá ânsia! E veja Capitão Dentinho, há cadelas e filhotes entre nós. Formamos todos uma família, não apenas uma matilha. Nós amamos uns aos outros e cuidamos um do outro. Protegemos um ao outro. Está vendo aquele pequeno ali, o Biro-Biro? - bola 8 aponta para uma graça de filhote. Preto, bem preto. Com olhinhos redondos e brilhantes. Patas largas, dentinhos afiados e dono de uma carinha tão fofa que era impossível para um ser humano, vê-lo e não abaixar para fazer um carinho em suas bochechas falando com voz diferente (já reparou como mudamos a voz pra falar com filhotes?). Capitão Dentinho se emociona. Lembra de seu próprio filhote. E vai além, lembra de quando ele mesmo era um filhote muito amado, antes de se alistar à polícia canina mineira. Nesse momento uma lágrima escorre no fucinho de Dentinho (se fosse um cachorro qualquer seu dono juraria que era uma remela nojenta. E limparia com um pedaço de papel).
Bola 8, vamos fingir que vocês não estavam. Pegue sua família e dê o fora daqui.
Obrigado Dentinho, obrigado!
Vá logo antes que eu me arrependa.

A partir daí não tem mais diálogo. Bola 8 e todos os outros cães, cadelas e filhotes saem pela porta dos fundos do sítio, a mesma que o vascaíno da água usava para suas visitas noturnas ao quarto de Eliza. Dizem por aí que desde ontem uma matilha de 11 rottweilers vaga pelas ruas da grande capital mineira. São todos cães dóceis e não caçam nem pombos, gatos e ratos. É uma matilha muito feliz, dirão as pessoas.

--

Isso tudo só pra dizer que de animal, animal mesmo, só o Bruno!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

sem espremer diante do espelho

Li uma crônica do Mario Prata sobre a envelhescência. Vale a leitura: http://www.marioprataonline.com.br/obra/cronicas/voce_e_um_envelhescente.htm

Resumindo, a envelhescência é a idade em que o cabelo da gente (homens) cai ou já caiu todo. Exame de próstata. Viagra. Espinhas na bunda. Conversas longas e lentas. Saudosismo sobre quase tudo etc..

Me diverti tanto com esta crônica que dividi com um amigo que é redator. No final da leitura o cara me diz:

_É, que merda. Em alguns anos vamos ter espinhas na bunda!

Imagino-me um envelhescente entre meus 45 e 65 anos indo a uma dermatologista. Acho que todas as médicas gatas do mundo são dermato. Cuidado com a interpretação. Isto não significa que todas as médicas especializadas em pele são gatas. Entendeu? É assim: eu nunca ouvi falar em uma doutora lindíssima que fosse urologista. Seria um sucesso entre os candidatos à terceira idade. Teria fila indiana quilométrica de aposentados pra fazer o exame do toque. Bem maior que a da Previdência Social. Mas se há uma urologista viva ela deve ser feia. E se não é, pense nisso: ela já pegou mais em pênis alheio que a Dercy Gonçalves antes de morrer. Ou Luciana Gimenez antes dos 30.
Mas voltando ao assunto, o eu coroa (porque nesta idade eu já não serei mais chamado de tiozão) chega ao consultório da dermatologista. Ela, toda arrumadinha do outro lado da mesa, me pergunta com uma voz doce e com hálito de trident azul bebê:
_Então, o que lhe traz aqui?
Meio constrangido, respondo:_Espinhas. Acne.
Ela olha pra minha cara por alguns instantes...
_Não vejo muitas espinhas no seu rosto.
Aí eu tenho que explicar a situação. Conto pra ela que, na verdade, as espinhas não estão no meu rosto, mas nas minhas nádegas. E pior, tenho que mostrar minha bunda empipocada e muito provavelmente murcha também pra aquela doutorinha (sei que o diminutivo correto é doutorazinha, mas é que soa muito estranho) de seus vinte e poucos anos. Neste exato momento tenho certeza que meu eu envelhescente vai se dar conta de uma coisa: entrei de cabeça, ou de bunda mesmo, na terceira idade.

Imagine se a bunda espinhenta fosse também peluda? Tadinha da dermato do Tony Ramos.

--
A crônica já acabou. Eu só queria deixar claro que ainda tenho 28, não tenho espinhas na bunda e não faço fila em urologista ou no INPS. Daqui a pouco, meu bem. Daqui a pouco.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

uma foto sua

com seus óculos grandes
sobre uma bicicleta amarela
pra eu colocar na tela
alimentar meus sonhos
próximo à janela
me forçar a ver
faz sim
pois sopra um vento lá fora
que me convida à passear no dia
com aroma de pipoca doce
quem sabe
um café com adoçante
uma caminhada sobre a torre
passarinho cantando em outra língua
voa num céu desconhecido
mãos enrugadas em missão
passeando lá na frente
ali mesmo
não se esqueça
da inspiração de agora
e de outros presentes
nesse outro lugar

quarta-feira, 26 de maio de 2010

insônia

minha fraqueza é dizer que adoro
teu sorriso maroto, levado, sem modos
minha segurança é não dizer que te quero
pra você não ter medo de me querer também
meu plano pra gente é não ter planos
é te encontrar só pela coincidência do que gostamos
minha alegria é teu breve tropeço
que te traz para mim quase antes do fim
da noite inteira
insônia passageira
uma madrugada à beira
de te afastar de novo

quarta-feira, 12 de maio de 2010

nublado

um arco-íris anunciou o preto e branco impossível
antes de se aproximar da nuvem, do cinza insensível
o encontro alertava sobre as roupas no varal
como estranha calmaria depois do vendaval
a previsão do tempo é de muita chuva
vai molhar o muro que debrucei pra vê-la nua
não era de longe minha favorita
foi meu ‘se’ e meu ‘não’, uma causa perdida
de dia estia mas à noite vem água
eu a quero mulher, não moleca levada
a espero sentado com um pensamento só
de enxergar as cores do dia, o primeiro raio de sol

terça-feira, 11 de maio de 2010

me perdi por te achar

não saio à noite esperando te encontrar
mas existo de dia enquanto você não chegar
é meu tormento mas também minha alegria
listei sobre você coisas que eu não queria
fingi pra mim que você já tinha ido embora
não te quero pra sempre mas é impossível agora
não trincar meus dentes quando diz que me adora
me esquece um dia e não vem com o seu sorriso
preciso de tempo pra ser mais forte que isso
finge que não me entende e pede pra eu ficar
diz que é nada sem mim e que me espera voltar

terça-feira, 27 de abril de 2010

sinopse do poeta

não é uma aventura de uma hora e meia
é um romance pra uma vida inteira

quase ao vivo

faz alguma coisa só pra eu saber
que pensa em mim não só eu em você
diz também que me quer mais perto
que me espera no dia e no horário certo
carrega nos braços o que trago de história
me soma à tua simples trajetória
--
te levo até no colo pra outro lugar
aonde o presente ou futuro chamar
hoje mesmo olhava o que me fez
sobre abrir os olhos antes de sonhar de vez
pesa partir mas é preciso crescer
culparei o destino se ele não te escolher

da janela

não quis as que me sorriam
quis só a toda de branco
que faz sorrir os outros
mas é minha causa de pranto
me disse a palavra medo
enquanto eu esperava cura
casou-se com a sua mágoa
chamando-me de aventura

domingo, 18 de abril de 2010

sonhos? sim eu tenho sonhos

um dia desses sonhei
em ser o sonho de alguém
alguém que goste de mim
desse jeito qualquer que eu sou
já que não sou herói
já que não sou rico
já que não sou esbelto, elegante ou bonito
já que não sou quase nada daquilo
que eu mesmo sonhei pra mim

quarta-feira, 31 de março de 2010

la baguette

acredito em café da manhã na cama e massagem nas mãos pra acalmar
acredito que todo mundo: feio, bonito, gordo e até chato tem alguém especial
não acredito que é tudo perfeito e não acredito cegamente em finais felizes
mas acredito em tentar fazer valer
acredito em pôr do sol e em céu cheio de estrelas
acredito no cheirinho de mato e no barulho de ondas
acredito em fazer amor embora admita que às vezes o bom mesmo é fazer sexo
acredito que lá no fundo tem alguém que acredita nas mesmas coisas que eu
este alguém pode estar há 9162 km de distância de onde estou
não me importo
ainda que separados pelo atlântico
não me importo
pois acredito nesse alguém especial

terça-feira, 30 de março de 2010

promessas pra casar e filmes mela-cueca

Charlote estava decidida que aquele buquê seria seu. Até treinar uns saltos em casa Charlote o fez para voar mais alto que todas e agarrar o buquê da noiva quando fosse arremessado. Mesmo se este ainda estivesse bem no alto. Afinal de contas, tinha já seus 29 anos e aquele era o 4o casamento de amiga que ela iria aquele ano.

Chegou então o fatídico e esperado momento: o dia do casamento. Os noivos foram publicamente declarados marido e mulher por um padre com cara de técnico de futebol. Algumas mulheres estavam com maquiagens borradas pois se emocionaram ao ouvir os votos da noiva, enquanto que os amigos do noivo, já um pouco cansados daquilo tudo, cochichavam entre si sobre as damas de honra gostosas. Charlote não imaginava, mas era uma dessas gostosas citadas no papo dos rapazes. Alienada aos olhares alheios, encarava desafiadoramente quase todas aquelas mulheres que ameaçavam pegar o buquê em seu lugar. Só não estava de fato preocupada com a presença de uma gordinha de braços pesados. Esta jamais alcançaria o prêmio. Mesmo que este fosse jogado a centímetros acima de sua testa.
O frenesi era evidente. No fundo uma senhora passava mal por lembrar-se do 4o casamento da sua filha do meio. Um dos padrinhos constatou que a dama de honra ruiva era famosa por transar com qualquer um que lhe pagasse uma dose de tequila – homem ou mulher – reforçou ele. E em uma das mesas próximas ao bar o filho de alguém tirava meleca e colava no vestido de seda alugado da mãe.
Charlote não percebeu nada daquilo. Em sua mente estava apenas a imagem do buquê voador. Depois de pegá-lo não mais correria o risco de ser chamada de encalhada por suas amigas que já haviam feito juramentos matrimoniais e assinado a ‘porra’ dos papéis. Estas já estavam livres deste fardo.
A noiva, extremamente feliz e hipnotizada por aquele tão esperado dia, irradiava uma beleza incontestável. Seu sorriso já fazia doer as bochechas rosadas, porém era impossível deixar de sorrir sem descanso. Ficou de costas para suas amigas, familiares, namoradas penetras de amigos e contou bem alto antes de jogar o buquê: – 1, 2, 3 e... JÁ!

Se fosse possível ouvir os pensamentos de Charlote naquele momento, em sua mente tocava a música de CARMINA BURANA. Enquanto o buquê iniciava a decolagem nas mãos da noiva, Charlote percebeu que havia se posicionado mal. Rápida como trovão saiu correndo por sobre o salão atropelando inclusive a mãe da noiva – o que esta velha está fazendo aqui se ela já é casada e tem 2 filhos? Teve tempo pra se questionar. Usou uma cadeira como apoio e pulou sobre uma meia dúzia de desesperadas. Bem menos que ela, claro. Lá de cima avistou o almejado objeto: colorido e cheio de flores que Charlote não sabia mencionar sequer o nome de uma delas. Jamais pensara nele como um simples arranjo florido, mas sim como um homem lindo, malhado, inteligente, generosamente rico e bom de cama que se casaria com ela antes de levá-la em lua de mel por toda a Europa. O agarrou forte com as duas mãos e por alguns segundos tudo à sua volta pausou.

Charlote não se dera conta que sua manobra usando a cadeira para impulsiona-la para o alto funcionara performaticamente bem. Contudo, ela estava agora tão acima do chão que com as duas mãos agarradas no seu prêmio, não tinha como pousar em segurança no piso de mármore da chique casa de festas. Se ainda tivesse sobrevoado a gordinha de braços curtos, esta lhe serviria para amortecer a inevitável queda. Mas a roliça senhora nem sequer estava à vista.
Tudo isso passou pelos pensamentos de Charlote nos centésimos de segundos que ela se encontrava suspensa no ar. Estranhamente lembrou-se dos seus pais e do seu cachorro, o Jota. Todos, sentados no sofá bege da sua casa, sorriam para ela nesta rápida lembrança. E como se tivesse tomado uma dosagem de remédios para dormir maior do que a recomendada pelo médico, tudo ficou calmo e em profundo silêncio.

Ao cair no chão ouviu-se um barulho de ossos quebrando e alguém gritou ao fundo: ela quebrou o pescoço! Uma mulher, que era médica – embora tivesse cara de enfermeira de C.T.I. de hospital público da baixada fluminense – disse baixinho com lágrimas nos olhos: ela quebrou a coluna. Não sente nenhuma dor, mas vai morrer em poucas horas. Chamem uma ambulância, mas não tentem remove-la do chão ou a morte lhe será instantânea. Dramatizou olhando para o teto quando disse as palavras ‘morte’ e ‘instantânea’.
E foi ali mesmo no meio do salão, sobre enorme pressão dos espectadores que a aleijada, anestesiada e à beira da morte Charlote disse para quem quisesse ouvir o que acreditava ser suas últimas palavras:

– Eu tanto quis um amor em minha vida. Agora que tenho o buquê em minhas mãos não tenho mais tempo para que o bendito me encontre.

Kevin, um dos amigos do noivo, secreto romântico e poeta, havia dado especial atenção à Charlote. Ele enxergava nela uma beleza exótica. Embora ela agisse de forma estranha, segundo os padrões das mulheres que ele se interessava e mantinha casos passageiros, esta mulher era de especial beleza. Para ele.
Então, num ato digno de final de comédia romântica, Kevin ajoelhou-se diante de Charlote e disse: – Não morra ainda, Case comigo. Embora tenhamos apenas alguns minutos e não seja possível termos uma lua de mel, eu prometo te fazer a mulher mais feliz do mundo, mesmo que só por estes poucos minutos.
Charlote mal podia acreditar: morreria em breve, mas casada. E com um belo e romântico rapaz. Bendito e maldito buquê ao mesmo tempo! – SIM! Charlote disse ao rapaz, que ouvindo sua resposta, correu atrás do padre com cara de técnico de futebol e o fez casar-se com Charlote. Ali mesmo, no chão do salão da festa.
Após o padre os declarar marido e mulher, ou no ponto de vista dele, viúvo e mulher, Kevin beijou sua noiva quase já sem vida. 28 minutos depois os paramédicos chegaram preparados para transportar o corpo de Charlote em um daqueles sacos pretos que vemos em reportagens policiais. Em algumas semanas surgiriam boatos de que Charlote fora enterrada com o buquê nas mãos, pois nem com reza braba conseguiram fazê-la largar o amaldiçoado objeto.

Seria mais feliz se o pescoço de Charlote de fato não tivesse quebrado e fosse o barulho de osso quebrando, o de outra convidada gordinha mordendo um dos acepipes do farto buffet? E além disso, a razão do black-out de Charlote, um momento de forte emoção que lhe tirou da realidade por alguns segundos? Sim, com certeza um final menos trágico para a coitada, encalhada e desesperada Charlote. E assim foi. Ela estava bem e sobreviveria!

Ainda deitada decidiu que mudaria imediatamente o seu atual círculo de amizades. Logicamente evitaria dali por diante todas as pessoas que estavam naquele casamento. E recusaria ir à todos os próximos casamentos os quais fosse convidada. Suspeitosamente não mais recebera um convite de casamento sequer por longos anos.

Mediante da notícia que Charlote estava bem e que sobreviveria; Kevin, agora seu marido, estremeceu. Casara-se por um impulso romântico. Acreditava que no fundo este ato impensado de amor lhe renderia boas poesias para seu blog que ninguém visitava. Kevin não esperava que sua esposa vivesse mais que algumas horas ao seu lado. Como encarar o amor que deveria durar muito mais que seus casos passageiros? Para Charlote, mais rápido que o casamento chegou-lhe também o divórcio.
Pouco tempo depois 3 das suas 4 ex-amigas que se casaram àquele ano também se divorciaram. Mas Charlote nunca ficou sabendo.

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Não existe buquê mágico. Não existe tal coisa como príncipe encantado ou médico rico, generoso, com um pênis gigante e bom de cama ao mesmo tempo. Assim como não existe uma mulher super-gostosa, gata, de olhos claros, de cabelo bom, que saiba se vestir, inteligente, divertida, sem frescuras e que além de querer fazer sexo todos os dias goste de praticar sexo oral no seu companheiro. Existe sim o ‘acaso’ e existe sim o ‘destino’. Mas não se muda o destino e não se provoca o acaso colocando uma imagem de Santo Antonio de castigo dentro do congelador, fazendo promessas mirabolantes, investindo em charlatões que prometem “trazer a pessoa amada” em poucos dias ou colocando contra a parede todas as pessoas que passarem pela sua cama.

Será que ninguém entende que amor de verdade é bem diferente do que encontramos em páginas de romances improváveis e cenas de filmes mela-cueca?

sexta-feira, 12 de março de 2010

pré-fabricada

desde pequena fui chamada de fada
princesa. menina educada. linda! uma gata!
pois quando cresci dancei, fiz balé
rodopiava pelos palcos. encantados aplaudiam de pé
virei moça e fui pra escola
quantas cartas de amor li e joguei fora
do mais bonito, mais fiel e querido amigo
me apaixonei
me perfumei de flores
desviei de meros conquistadores
e depois de alguns anos eu então me entreguei
uma dor repleta de mais pura imagem
foi com incontrolável prazer que cedi aquela miragem
de um romance digno de ser contado num doce livro
escrito pelo mais poético autor vivo
a miragem cedeu então ao dia a dia
bem mais depressa que o amor me veio a agonia
de abrir os olhos pela primeira vez
de enxergar o mundo sem tanta magia
me desfiz princesa e virei vadia
saía, pegava, beijava, comia
quantos pudesse por dia
jamais estava cansada pra uma boêmia
até o momento que percebi o quanto temia
em te perder no dia seguinte
já não era mais fada e nem tanto vadia
pois alem da noite te queria de dia
ir contigo alem dos suados lençóis
encontrar um novo sentido pra palavra ‘nós’
conversar sobre uma vida mais dentro dos trilhos
logo mais ser feliz numa casa repleta de filhos
um deles uma fada
princesa. menina educada. linda! uma gata!

sábado, 6 de março de 2010

ela só queria alguém pra fazê-la dormir

se fosse em outro dia não teria sequer olhado pra você
mas hoje foi diferente. eu estava carente precisando de amor
eu te deixei acreditar que eu acreditava em tudo que me dizia
te fiz me abraçar e me guiar sobre ritmo de vulgar poesia
te convidei a me apertar entre teus braços e olhar de perto meus olhos descrentes
te beijei com tamanha vontade que por pouco não te quebrei os dentes
aceitei teu convite pra me deixar em casa
e quando se convidou pra subir eu não disse nada
depois de ter visto teu corpo nu e ter tocado partes antes cobertas
de ter sido beijada, amada, arregaçada, elogiada, xingada, acariciada, acabada e gozada no meio das pernas
te olho na cama deitado, frágil como um menino
que não amo
que não quero mais
que pouco me conhece
que não me merece
que vai contar pra todo mundo o que acabou de fazer
e que por muito menos que tudo isso já fez eu me arrepender

segunda-feira, 1 de março de 2010

voto de rebeldia. de uma doce menina amargurada

me tragam a loucura
eu não quero mais dor
cansei de tentar criar felicidade com uma vara de condão
cansei de buscar ser mais uma pura e delicada fada
me convide pra uma festa
pra muita bebedeira
vou fazer de qualquer bagunça a minha mamadeira
não vou ouvir se disserem que estou errada
nem me importar se larguei alguém ferido na estrada
tem sempre mais um pra me dar carona
pra me fazer viver, me fazer mulher e me tirar do coma
vou escrever tudo que desprezo e ler bem alto
vou satirizar o que acreditei um dia e vou gritar num palco
sobre quando eu jurei não chorar por mais ninguém
ser da vida toda e nunca mais de um só alguém

chope de quarta

uma bagunça pra esquecer
uma bebida pra encorajar
alguns tragos pra enaltecer
pra ver este bloco passar
da vida
dos dias
da monotonia
só pra ver este bloco passar

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ambição rotineira

não quero um amor que dê ressaca no outro dia
quero viver embriagado dele minha vida inteira
tragar de uma beleza que encante pelo menos os meus olhos
e beber de um sorriso que eleve sempre o meu humor
quero saber dela como foi seu dia quando eu não estiver por perto
e não querer saber nada do tudo que ela não quiser contar
quero uma fonte de inspiração pras minhas poesias
um upgrade na minha vontade de ser pai
quero aprender mais sobre tudo que ela arrumar na pia do banheiro
que com toda a certeza do mundo um dia me fará experimentar
quero cafuné nos meus cabelos e visitas surpresas no chuveiro
quero deixá-la dormindo quando sair pra pedalar bem cedo
quero rir do seu provável mau humor matinal
já que acordo sempre feliz, quase insuportável
quero tanta coisa fora isso e espero que ela também queira
ninguém vive apenas de um sorriso
mas de uma rotina deles dá pra se viver uma vida inteira

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

a pequena anti-cristo

é bem comum vermos pessoas que não tem muita afinidade com qualquer religião se intitularem católicas. é quase o flamengo do futebol. é do povão. não precisa torcer, cantar o hino e nem freqüentar o maracanã pra dizer que é flamenguista. sim, sou tricolor. mas esta história nada tem a ver com time de futebol.

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Rio de Janeiro. 1992.

uma família tradicional, católica de freqüentar a igreja e saber o nome do padre da missa das 18h de domingo resolveu catequizar sua filha, a eva. para isso a matricularam num cursinho da escola e eva faria então sua primeira comunhão.

eva era uma criatura de 9 anos. loirinha, magrinha, de olhinhos puxados. extremamente sapeca, criativa e atenta. após assistir durante 2 meses as curiosas aulas nas suas antigas e divertidas tardes de sábado, eva se sentia pronta para o grande dia de sua primeira comunhão.

padres, assim como presidentes da república, deveriam fazer aulas de etiqueta. é preciso saber falar. sem assustar. e sem envergonhar também.
padre miguel, não àquele da missa das 18h de domingo que os pais de eva adoravam ouvir falar, mas um outro padre, foi o responsável pela missa daquela manhã. este era ranzinza e estava na cara que resolveu ser padre também para não ser obrigado a casar com uma mulher faladeira, ter filhos e ter que a aturar crianças por perto.

pais, avós, tias, primos barulhentos, amiga do filho do marido da professora de natação. todos estavam presentes para ver a pequena eva beber o vinho e receber a hóstia pela primeira vez em sua pequenina vida. muitos flashes de máquinas fotográficas foram disparados na entrada da igreja, fazendo despertar até os mais sonolentos pombos que descansavam sobre a soleira da grande porta.

o sonho de todo o investimento dos pais de eva era ver sua filhinha ter mais fé e saber todas as respostas para as perguntas ou deixas dos padres. por exemplo, quando o padre fala "nosso coração está em deus", a resposta é "ele está no meio de nós". enfim, eva soube todas as respostas. todos estavam muito orgulhosos. eva será uma menina de muita fé em deus, dizia sua avó.

a missa estava indo muito bem. uma freira baixinha de sotaque nordestino organizava a fila das crianças para em breve, comungarem pela primeira vez. eva era uma das primeiras crianças da fila. orgulhosa por ter respondido de imediato todas as perguntas do padre com cara de mau, estava ereta e extremamente concentrada. foi quando padre miguel com sua voz grave e seca disse bem alto, como um olhar quase ameaçador à percepção de eva: crianças. é chegada a hora de provarem do corpo de cristo e do sangue de cristo!

pronto. a pequena eva logo imaginou jesus sendo fatiado e separado em pedacinhos, cujos quais ela agora provaria um. imaginou também que todo aquele sangue que jesus derramou para salvar o povo judeu e trazer a palavra de deus ao mundo fora separado em cálices, sendo que um deles estava bem diante dos seus olhos. o padre com cara de mau era sem sombra de dúvida um dos cúmplices de tal atrocidade. eva chorou copiosamente e amaldiçoou seus pais, seus primos barulhentos, a amiga do filho do marido da professora de natação e todos os seus amiguinhos ali presentes. deixou a igreja correndo em prantos e jurou que dali em diante seria tudo, até anti-cristo, menos católica.

cinzas

preparei cama de rosas pra você se acomodar
te olho sempre de costas pra não ter que encarar
tua falta de manhã quando tenho que acordar
teus conselhos sobre a vida que não posso mais errar
te incluo sem querer nos meus sonhos de rapaz
teu carinho ainda procuro em uma doce morena
que ensino a ser como você foi cada vez mais
assim sinto que você em mim descansa em paz

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

o que vem na frente

também queria provar do teu beijo
haveria quem invejasse todo o carinho que eu te daria
alguém encontraria em nós uma desculpa pra tentar de novo um amor considerado perdido
íamos além do que se pode ver caminhando de mãos dadas na praia ou na garoa
se você soubesse e se também quisesse te mostraria como a vida é boa

o carnaval deixa

no carnaval você pode
falar com todos na rua
dançar com as mais bonitas
sorrir para qualquer um

no carnaval você pode
perder toda sua vergonha
beijar o quanto conseguir
amar todo dia um novo amor

no carnaval você pode
cantar e fantasiar a vida
fingir ser seu próprio herói
viver o seu próprio riso

no carnaval pode de tudo
só não pode não poder nada
isso seria absurdo

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

prato de reflexão

um pedaço de tempo pra servir na janta
pra se deitar na cama e fazer digestão
das idéias que devoramos com um copo de suco
do sabor que não havínhamos pensado antes
e que agora parece ser a nua verdade
crua e regada de pimenta
de queimar a garganta
de marcar na pele
de mudar o gosto da vida pra sempre

receita

amor de encomenda
que a gente inventa pra escrever
que a gente escreve pra rimar
que a gente rima pra cantar
que a gente canta pra lembrar
que a gente lembra pra não esquecer
que não há ninguém perfeito no mundo
que nada disso existe
que estamos sós

ordem natural

basta um olhar seu pra me fazer feliz
quando nossos olhos se vêem minha alma passeia
canta por dias leve melodia
é de essência pura alegria

se me sorri é bom me segurar
pois minha alma irá voar
muito alto, bem pra lá do palco
e sem hora pra voltar

se me beija eu digo adeus
viverei em outro mundo
dormirei pra sempre um sono profundo
sonhando com o que virá a seguir

por conversas de um recente passado 2

não sei se te conhece abaloado vestido
branco e com pequenos frisos
que dão vontade de espiar
não sei se te atenta os sonhos
que vão alem de um império
que são assunto muito mais sério
como o amor
e como o saber amar de volta
também não sei se te olha nestes olhos claros
se dança contigo de rosto colado
se te conserta a franja que cai sobre o rosto
se te conhece e aprecia todos os gostos
se filmaria o dia inteiro teu sorriso inigualável
se te fomenta a vontade de crescer inenarrável
ou te apresenta novos filmes, de valor inquestionável
se te visita sempre que possível
se faz de um dia normal um dia incrível
se só te faz chorar de tanto rir
se sabe que não há nada melhor no mundo à fazer você feliz

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ainda

pro que sobrou de nosso papos
pro que ficou daquela vontade
que por vezes quase nos dominou
e por pouco quase nos beijou
que deitou com a gente na cama
quando chegamos em casa sozinhos
um sem o outro

por conversas de um recente passado

não sei se te planeja uma mulher, não apenas namorada
se te quer feliz, não apenas do seu lado
se sabe o que é ser verdadeiro amigo, companheiro, confidente ou namorado
por hora, mais do que claro, bastante questionado

domingo, 31 de janeiro de 2010

dia daqueles

por uma saia bordada
ou uma triste alma penada
por uma roupa mal lavada
e pelo calor que sufoca
pelo bem que é só querer
pela saudade
pela demora
pelos brutos
por um calo no pé
pela falta de fé
um amargo na garganta
que à muitos espanta
que grita
que chora
que se irrita
e que no nascer de um novo dia
vai embora

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

editora experiência

lembrar pra esquecer
tocar pra não querer
amar pra não sentir
beijar pra não abrir os olhos
chorar para ver o dia nascer de novo

da série: coisas que precisamos fazer antes de morrer

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

lembrar sem doer

eu lembrei da falta de tudo
e fiquei assim pensando
que também já fui mais seu

domingo, 24 de janeiro de 2010

comprometida

bastou um sorriso teu
e um papo qualquer que me interessou
não precisava ter jogado os cabelos de um lado para o outro
nem se mostrar cada vez mais linda
mais simpática
menos minha

domingo, 17 de janeiro de 2010

nunca te quis

meu peito não se espanta
quando te vê
minha respiração já não vacila
ao te encontrar
não falo mole
não fico romântico apaixonado
prefiro-me esquecido, abandonado
à te ter todo dia do meu lado
não quero mais sentir saudade

sábado, 16 de janeiro de 2010

todo meu

aqui posso me dizer herói, sincero, amigo
seria tudo aquilo que quero e o que mais preciso
charmoso, rico. extremamente bonito
sem disfarce então me resumo no que amo fazer assim por escrito:

trilhar. malhar. desenhar. ler
trabalhar. me apaixonar. claro, escrever
cuidar. contar. filosofar. viajar. me locomover
comprar. vestir. surfar. pedalar e escalar. vencer
cantar. tocar. de vez em quando beber
sair pra dançar. sair por sair. rir até cair
dirigir. encontrar dinheiro no bolso
dar bom dia pra todo mundo. chamar meu pai de moço
beber água gelada. comer salada pronta
conversa boa de bar de jamais pedir a conta
fazer foto de paisagem morta. arrumar quadro em posição torta
andar de pés no chão. ter alguém pra dar as mãos
teatro, cinema e filme na televisão
falar com a família sempre que possível
ouvir uma história surpreendente, incrível
sonhar. amar. conhecer
entre tantas outras coisas, viver

mesmo

um dia eu acordo e não te ligo mais
neste dia me julgo além de capaz
de te esquecer
de não saber
da falta que você me faz

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

a única primeira

não há disputa de atenção
afinal eu vim de você
que me fez assim de propósito
só pra te amar
só pra te ser
pra ver crescer

não deixará de ser meu primeiro amor
isso me é natural
é forte
perfeito
incondicional
me protege do mal

sei da falta que ficou
que a distância separou
que se sente ausente
mas tudo que me disse eu guardei
e graças à isto hoje sei
qual será o meu lugar

falta

uma saudade que não tem tamanho
não tem conto nem espanto

imagino vocês aí, vivendo sem mim
quantas risadas eu não perdi?
quantos filmes não puder ver?
opiniões que nunca dei
abraços que não senti
há mais vida aí tão longe?
vida esta que não posso viver
pessoas que amo e que não posso ver
fico um tanto esquecido e sem saber
perto de mim sou até feliz
tem apenas o incômodo do vazio que restou no peito
que disfarço quando nos falamos meio que sem jeito
por não ter o bom dia. não assistir o boa noite. não contar o boa tarde
por não viver no mesmo teto. não provar da mesma janta. não ouvir a voz que vem do chuveiro quando cantas

uma saudade que não tem tamanho
não tem conto nem espanto

se eu não falar de amor o que me resta?

tem amor de tudo no mundo
velhinho que ama cachorro
geração saúde que ama correr
mãe que ama filho e marido
crítico que ama de graça comer e beber
bandido que ama roubar, furtar, assaltar. vai lá se entender!
tem gente que ama de corpo e de alma. que chega até a doer
criança que ama doce
gatinho que ama o dono
perua que ama sapato e programa de fofoca na tv
tem gente que ama novela. e filme cabeça. e autores polêmicos que ninguém lê
tem gente que se ama à noite no quarto quando ninguém mais pode ver
tem louco que ama babar pois é tudo que sabe fazer
tem atleta que não ama jogar mas ama com força ter a chance de vencer
marido que ama a amante
motor de carro que ama lubrificante
intestino preso que ama laxante
revoltados que amam nos ‘emputecer’
mulher comprometida que ama não se comprometer
situações complicadas que amam aparecer
religiosos que amam venerar seu Deus
pai que ama paparicar os filhos e os chama de seus
cegos que amariam abrir os olhos e ver
políticos que amam ter em suas mãos o poder
chaves de casa que às vezes amam se esconder
gente invejosa que ama ver o outro perder
malcriados que amam sempre nos responder
ombro amigo que ama nos acolher
nossos pais que tanto amam nos proteger
tem gente que ama o simples fato de viver
há também aqueles que amam escondidos sem o outro saber
e assim sonham com o que amam, mas não podem ter

o menino do cabelo verde

me sinto criança
garoto mimado
bastante levado
pelo seu amor
suas rugas de carinho
que me são toda a atenção
me contam histórias
mesmo que as mesmas
mas eu fecho os olhos e vejo
as lembranças que lhe traz
as bainhas das calças que você me faz
que me acompanham todos os dias
no trabalho. nas festas. pra você serestas
as frutas que adoçam meu amanhecer
as ligações perdidas que não pude atender
sua voz rouca dizendo que está com saudades
que já faz tempo que não nos vemos
a casa branca na rua ipiranga que elegemos
pra ser só nossa enquanto sonhamos
não há dúvida que nos amamos
és pra mim duas vezes mãe
e mil vezes a melhor avó do mundo!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

fiz pra mim

por onde andas que nunca mais te vi
perdeu a graça tanto te desenhar
moldar seu rosto na imaginação
revirar gavetas de dias a procurar

você que eu fiz só pra mim

sua pele reflete meu amor
que sua quando encontra o teu

teus olhos me sorriem pra eu gargalhar na alma
claros como um amanhecer

seu cabelo é como cascata desenhada à lápis em papel de pão
respinga negro em curvas a tua perfeição

por onde andas que nunca mais te vi
perdeu a graça tanto te desenhar
moldar seu rosto na imaginação
revirar gavetas de dias a procurar

você que eu fiz só pra mim

mais lua menos isa

ele só quer provar
um pouco desse teu sorriso
um muito desse teu olhar
numa conversa quase que de bar
com um copo na mão e assunto na mesa
um casal a se falar

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

uma desculpa para um esquecido

você é solta até demais
desliza de mim mas não da vida
vive de tudo e não um amor
sai com todos mas não com alguém

você é livre pelo mundo
mas está presa ao sonho eterno
de que a vida é passageira
que deve ser vivida feito louca aventureira