quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O amanhã será melhor

Ele estava sonhando um destes sonhos que a gente não se lembra quando acorda quando uma mão pequenina tocou a sua e o despertou. Não assustado, mas surpreso, abriu os olhos. Aos poucos focalizou um menininho com um sorriso assimetricamente banguela, faltando 2 dentes na parte de cima e 1 na parte de baixo. Olhos sujos de remela e cabelos desgrenhados. Porém era uma das coisas mais lindas de se ver. Pai, hoje é sábado. Vamos passear? Olhou para o lado e sua mulher estava ainda dormindo profundamente, com o rosto mergulhado no travesseiro. Arrumou delicadamente seus cabelos, lhe beijou o ombro e levantou.

Sob o sol nada tímido das 9h30 da manhã do Rio de Janeiro ele suava. Havia comprado, mesmo sobre a não aprovação dos avós, um skate para o pequenino. Eles passeavam juntos, deslizando sobre a via à beira do mar. Foram do Leblon ao Arpoador. Chegando lá colocaram suas coisas sobre as pedras e mergulharam. Nadaram e se divertiram por mais de 15 minutos. Pronto pra andar mais? No caminho de volta passaram na Maria Quitéria para um sorvete. De lá Foram para a Lagoa e deram uma volta quase completa até chegar no bowl, perto do clube Caiçaras. Arriscaram algumas descidas e uma ou outra manobra bem simples.

O relógio de rua já marcava 10 minutos para o meio dia e eles já estavam exaustos. Tomaram uma água de coco para hidratar e seguiram para a praia novamente. Vamos para o Henrique? Sua mãe já deve estar lá esperando por nós. Ela teria se juntado à eles no passeio de skate. Provavelmente montada na bicicleta pois o skate não era o seu predileto. Mas estava grávida de 5 meses. Uma menina. O segundo filho do casal. Os dois chegaram na praia e como sempre foram muito bem recebidos pelos amigos. Sua mulher está logo ali naquela sombrinha e já tem cadeiras pra vocês dois. Posso levar um coco pra cada um ou hoje vai ser o Guaraviton?

Eles estavam de mãos dadas e conversavam sobre a vida. Não esbanjavam dinheiro, mas tinham uma vida bem confortável. Planejavam o quarto da pequena. Moravam em um bom apartamento no Leblon, que ela conseguiu negociar por um ótimo preço. Viviam de aluguel, esperando passar o efeito Copa de Mundo e Olimpíadas que levou o preço dos imóveis lá nas alturas em toda a Zona Sul do Rio. Depois o plano era financiar uma casa na Gávea ou na Urca. Mas para isso precisariam economizar um pouco. Eles dividiram o jornal e enquanto ela lia o caderno Economia ele lia o Segundo Caderno. Faziam manobras pra virar as páginas, pois continuavam de mãos dadas. Enquanto isso o pequeno pegava ondas no raso com sua bodyboard. Nem se lembrava o quanto já havia andado de skate naquela manhã.

Quase 3 horas depois eles estavam entrando no carro. Forraram os assentos com toalhas por causa das roupas molhadas. No rádio Qinho assoviava uma canção de amor, cheia de poesia. Onde vocês querem almoçar hoje? Sua mulher disse que seria bom comer uma salada e uma quiche, mas o menino insistiu em ir no Mc Donalds. Por mais que os dois tentassem educar a alimentação do menino os amiguinhos da escola viviam falando sobre todas as franquias de fast food do mundo. Era difícil negar sempre, pois o menino não queria saber o que era colesterol, não se importava em comer gordura e simplesmente adorava Coca-Cola. A saída foi dizer que a irmãzinha que estava dentro da barriga da mãe precisava de algo saudável.

Quando chegaram em casa já estava ficando escuro. Ele foi dar uma ducha no menino enquanto ela entrava no banho em um outro banheiro. Após o banho o filho foi pro quarto e disse pro pai que queria desenhar um pouco. Tudo bem, eu vou tomar um banho e ficar um pouco com a sua mãe. Logo mais eu volto e vamos criar uma história juntos, o que acha? O garoto disse que tinha que ser uma história sobre leões, mas logo depois que disse isso adormeceu sobre os papéis e lápis de cor. Ele foi pro quarto e ela ainda estava no banho. Ele se juntou à ela e ficou admirando seu corpo grávido. Magra, porém com a barriga imposta para frente e os seios inchados. Linda, ele disse. Ela deu um sorriso como o do menino, espontâneo, mas que contava tudo. Ele entrou no banho junto dela e eles fizeram amor. Ele disse, eu te amo. Ela respondeu, eu também.

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